Fernanda Soares
Fernanda Soares

17/10/2013, 16h


O secretário municipal de Saúde, Cipriano Maia, divulgou uma carta aos servidores, logo após o início da greve. A carta, que todos devem ter lido, convida os servidores a “continuar juntos” na “reconstrução do SUS” em Natal.

Em primeiro lugar, a saúde não está na crise atual por nada. A destruição do SUS foi sendo feita a partir de escolhas políticas. Os governantes, um a um, escolheram destruir o projeto. Escolheram usar o Orçamento público para outros gastos, principalmente juros da dívida pública, o que levou a que apenas 4,17% do Orçamento federal seja hoje destinado à saúde. Um gasto criminoso que se repete nos estados e cidades.

O secretário acredita que o governo Carlos Eduardo (que já governou Natal duas vezes) e que o governo federal irão reconstruir o SUS. Não há nenhum motivo para acreditar nisso.

O secretário aposta no trabalho “como potencial criativo”, para sair da crise atual. Não é suficiente. Para reconstruir o SUS, é preciso investimento. É necessário mudar as escolhas, investir na saúde, romper com a terceirização, fazer concurso público, valorizar o servidor. Obviamente, isso iria se chocar com empresários, com banqueiros, com os grupos políticos e econômicos que dominam o Brasil e o RN.

Os governos não escutaram a população e continuam com outras prioridades, como mostra vários trechos da carta do secretário:

“A SMS Natal/PMN reconhece como legítimas e justas as pautas de reivindicações dos sindicatos, mas existem restrições financeiras.”
“Será apresentado em cronograma de pagamento para o ano de 2014, de acordo com as possibilidades financeiras da prefeitura e a lei de responsabilidade fiscal”
“férias dos servidores de janeiro-abril de 2013 que ainda não foram pagas, serão pagas até o final de 2013, de acordo com o impacto financeiro”.

A Lei de Responsabilidade Fiscal e a falta de dinheiro não são justificativas para congelar salários dos servidores e manter as unidades fechadas.

Não há limites quando se trata da Copa, por exemplo. A prefeitura acaba de dobrar a dívida do município e vai pagar mais R$ 20 milhões por ano, só de juros, para poder fazer as obras da Copa do Mundo. Dinheiro que fará falta na saúde pública. Não teremos uma saúde de qualidade e muito menos, com padrão Fifa, enquanto a prioridade for outra. Infelizmente, o secretário Cipriano tornou-se prisioneiro desta lógica.

Pedimos que respeite a greve, direito histórico conquistado, assim como deveria ser o SUS. Que atenda o nosso pedido de uma nova audiência, mantendo o diá­logo. Mas que entenda que o diálogo não é suficiente para pagar nossas contas.

17 de outubro de 2013
Sindicato dos Servidores da Saúde do Rio Grande do Norte (Sindsaúde-RN)