Fernanda Soares
Fernanda Soares

24/05/2022, 13h


O primeiro debate da reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas, iniciada na manhã desta sexta-feita (20), destacou as diversas lutas que marcam a conjuntura nacional desde o início de 2022, em meio ao aprofundamento da crise econômica e social.
 
A mesa de expositores reuniu garis do Rio de Janeiro, metalúrgicos de Volta Redonda e de São José dos Campos/Jacareí, ativistas do movimento popular da cidade e do campo, trabalhadores do INSS, da Educação e indígenas, que relataram sobre a situação nos respectivos setores e as fortes mobilizações que vem sendo realizadas. Os que não puderam estar presencialmente, fizeram suas exposições de forma online.
 
São lutas por empregos, salários, direitos, por moradia, em defesa dos serviços públicos, em defesa da vida contra os ataques de grileiros e latifundiários e dos governos, que expressam a forte disposição de luta existente na classe trabalhadora brasileira.
 
“O peão voltou”
 
O painel começou com a fala de Tales Ribeiro, metalúrgico da CSN de Volta Redonda (RJ), onde acontece uma das mobilizações mais emblemáticas em curso no país. Na maior siderúrgica da América Latina, 34 anos depois da histórica greve de 1988, os metalúrgicos protagonizam um levante operário/a pela base, que enfrenta a truculência da empresa, mas também a burocracia sindical.
 
“Tenho orgulho de participar desta reunião, que mostra que temos muitos outros trabalhadores que estão empenhados em lutar pelo que temos direito. Quando começamos nossa luta, fomos chamados de minoria, de baderneiros. Mas a luta que começou com 30 pessoas não acabou como falaram”, falou.
 
“Temos sido coagidos pela empresa, atacados pelo sindicato traidor de Volta Redonda, mas seguimos firmes porque acreditamos no que estamos reivindicando. A Comissão de Base, eleita pelos trabalhadores, tem o direito de sentar na mesa e negociar e reivindicar do patrão nosso direito de ter condições para comer, morar, vestir”, disse.
 
A fala de Tales foi encerrada pelos presentes no plenário com o grito que ficou conhecido nas assembleias e mobilizações dos metalúrgicos da CSN. “Ô, ô, ô, o peão voltou”.
 
O gari do Rio de Janeiro Bruno Rosa falou em seguida e trouxe detalhes sobre a forte greve realizada pela categoria pela base e contra a burocracia sindical. Uma luta fortemente reprimida pelo governo do prefeito Eduardo Paes e também atacada pelo sindicato pelego.
 
“Foi uma das maiores paralisações dos últimos 20 anos. Maior que as realizadas em 2014 e 2015, pois contou com uma ampla adesão e com piquetes por toda a cidade. Muitos trabalhadores colocaram seus carros a serviço da luta da categoria. Isso permitiu ultrapassar a proposta rebaixada inicial feita pela Prefeitura, enfrentar os ataques do governo e as manobras da burocracia”, disse.
 
Bruno denunciou a repressão feita pelo governo de Paes que demitiu dois ativistas, entre os quais ele próprio, e provocou a prisão de trabalhadores durante os piquetes. O ativista destacou a necessidade de unificar as lutas em curso rumo à construção de uma Greve Geral e também chamou apoio à campanha pela reintegração dos demitidos.
 
As lutas na Educação
 
As greves e mobilizações no setor da Educação que se espalharam e ainda ocorrem em várias regiões do país também estiveram representadas no painel desta sexta-feira, com a exposição de duas trabalhadoras e ativistas do setor.
 
A coordenadora geral do Sintepp de Belém e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Silvia Letícia falou sobre a greve dos trabalhadores não-docentes de Belém (PA) que já dura mais de um mês.
 
São merendeiras, porteiros, agentes de limpeza, assistentes administrativos, secretários/as de escolas, que não ganham sequer um salário mínimo. Recebem R$ 869,26 por mês, quando o mínimo vigente é de R$ 1.212. “É um escândalo que esses trabalhadores recebam abaixo do salário mínimo nacional”, denunciou.
 
Silvia lembrou que Belém é governada por Edmilson, do PSOL, que tem endurecido os ataques e repressão aos trabalhadores, com medidas como corte de ponto, substituição de servidores. A dirigente ressaltou a importância de cobrir de solidariedade e apoio a luta desses trabalhadores.
 
Yara Ferry, trabalhadora da Educação no Piauí, também falou de outra grande luta que ocorre na categoria no país. São mais de 100 dias de greve na educação municipal em defesa do Piso Nacional da Educação. Já os trabalhadores estaduais também cruzaram os braços e também se mobilizam há mais de 80 dias.
 
“Enfrentamos tanto o governo estadual do PT, quando o governo municipal bolsonarista de Teresina. Ambos se negam a negociar e a pagar o reajuste do piso, impõem ataques e perseguições como corte de ponto, remanejamentos e disseminação de fake news contra a categoria junto à população”, relatou Yara.
 
“Estamos determinados a seguir a mobilização e incentivar outras categorias, como da saúde, assistência social e rodoviários a também entrar em greve. Durante essa luta os trabalhadores já perceberam que só podem contar com a nossa própria classe. Acreditamos que precisamos defender uma alternativa socialista que represente verdadeiramente as necessidades da classe”, concluiu.
 
A defesa dos empregos
 
O operário e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região Célio Dias falou sobre as mobilizações na base da categoria, nas fábricas Avibras, Caoa Chery e MWL, que têm como centro a defesa dos empregos e direitos.
 
Célio relatou a forte resistência protagonizada pelos trabalhadores após os anúncios de demissões em massa feitos primeiramente pela Avibras e, mais recentemente, pela montadora Caoa Chery. Com greves, passeatas, exigências aos governos e políticos, acampamentos em frente às empresas foram ações tomadas pelos operários, em importantes processos de auto-organização, segundo Célio. A entidade chegou a elaborar e protocolar um projeto de lei para proibir o fechamento anunciado pela Chery, uma vez que a empresa se beneficiou de muito dinheiro público com isenções fiscais.
 
“Há um rico processo no país, apesar de todas as mazelas e ataques a nossa classe. Estamos vendo que onde se organiza, tem luta. Daí a responsabilidade da nossa Central se colar e impulsionar todas as lutas, para derrotar Bolsonaro e todos que atacam nossos direitos. Por isso, as direções que secundarizam a luta em prol das eleições são canalhas. Queremos eleger nossos candidatos, mas colocar a classe na rua é o fundamental”, concluiu, ao som de outra palavra de ordem puxada pelo plenário que virou tema da luta dos metalúrgicos da Avibras: “Eu não vou embora, eu não vou embora”, em referência a postura de uma luta incansável em defesa dos empregos.
 
A greve do INSS
 
Um dos processos de luta mais intensos dos servidores públicos foi abordado por Moacir Lopes, dirigente da Fenasps, que falou sobre a greve do INSS. O dirigente começou lembrando da mobilização contra a PEC 32 (Reforma Administrativa) realizada no ano passado que conseguiu impedir o avanço desse ataque neste primeiro momento.
 
“Quando o governo anunciou no início do ano um aumento salarial apenas para o setor das polícias isso causou uma revoltou e resultou numa reação imediata das categorias para buscar a reposição de 19% e melhores condições de trabalho”, disse.
 
“No INSS, temos ainda uma pauta específica que inclui a defesa dos serviços públicos. São mais de 5 milhões de processos virtuais parados e é a população pobre que sofre”, afirmou. Moacir citou ainda a intransigência do governo em negociar e de outros ataques como o sistema de metas imposto aos servidores que aumenta a pressão e também a piora no atendimento público. “Temos feito vigílias, greves, paralisações e ocupações e outras categorias como servidores da Receita, judiciário, Ministério do Trabalho também estão mobilizados, mesmo sem o apoio da CUT, citou”.
 
A luta por moradia, a luta pela vida
 
Uma das mais expressivas lutas populares, a luta por moradia, também foi tema do painel e foi abordado por Vanessa Mendonça, liderança na ocupação dos Queixadas, em Cajamar (SP), e ativista do Movimento Luta Popular.
 
“Há mais de 500 anos nossos direitos são arrancados. Na pandemia, os trabalhadores foram os mais afetados. Sem condições e direito à quarentena, sem acesso à saúde, à moradia. Mesmo na pandemia, aconteceram despejos, mesmo com a ADPF 828 do STF que proibiu desocupações”, relembrou.
 
“A ação da Campanha Despejo Zero foi uma unidade de ação, que reuniu diversos movimentos, muito importante que conseguiu prorrogar por três vezes essa liminar. Mas ela vence no próximo dia 30 de junho e ameaça milhares de famílias no país. Somente em SP, são 41 mil famílias”, contou.
 
Vanessa citou várias ocupações com ordens de despejo já com data marcada, como os Queixadas, a ocupação Reflexo da Manhã, em Volta Redonda (RJ), Raimundo Vitório, em Aracaju (SE), Fábio Alves, em Belo Horizonte (MG), entre outras.  “A CSP-Conlutas sempre apoiou essa luta e teremos de lutar contra os ataques que virão. Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito”, concluiu.
 
A participação de forma online de Erasmo Teófilo, morador do Lote 96 da Gleba Bacajá em Anapu (PA), e da indígena e integrante da SEN da CSP-Conlutas Kuña Yaporã (Raquel Tremembé), enfocou as lutas populares no campo, em que ficou ressaltado a violência que tem sido imposta por grileiros, latifundiários, mineradoras, madeireiras, com a conivência e ação do governo de ultradireita de Bolsonaro e também estaduais.
 
Erasmo contou que os agricultores do Lote 96, que sofreram um grave atentado com a ação de pistoleiros, relatou que o acampamento vivenciou mais um dia de tensão e denunciou a inoperância da polícia em dar segurança à comunidade. Fez um apelo à solidariedade e apoio e à necessidade de denunciar as violações que estão ocorrendo.
 
Raquel Tremembé destacou a situação de opressão, violências e violações sofridas pelos povos originários e camponeses, que se agravaram sob o governo de ultradireita de Bolsonaro, e lembrou que no próximo período, teremos de retomar e intensificar a luta contra o Marco Temporal, tese que está para ser votada no dia 23 de junho.
 
“Se não estivermos mobilizados de forma coletiva, vamos ver uma situação de tragédia anunciada. Por isso, é preciso resistência, inclusive internacional. Fazemos um chamado a que todos se juntem a nós, para barrar essa atrocidade”, afirmou.
 
Ao final das exposições, foi aberto para as intervenções dos presentes ao plenário da reunião, em que mais trabalhadores e ativistas expressaram outras mobilizações que estão ocorrendo e também afirmaram a necessidade dos esforços para unificar as lutas e apostar na organização da classe e na ação direta para defender as reivindicações da classe trabalhadora.