Fernanda Soares
Fernanda Soares

01/02/2024, 15h


Neste mês de janeiro de 2024 a campanha “Janeiro Branco” completa 10 anos de existência,  com o objetivo de conscientizar a população brasileira a respeito da saúde mental e emocional das pessoas. A campanha que surgiu em 2014, partiu de uma iniciativa social com o  objetivo de construir uma nova cultura que valorize a saúde mental, o diálogo, a qualidade de vida e o bem estar emocional na humanidade através da psicoeducação; criação e execução de políticas públicas que considerem as necessidades psicossociais da saúde mental da população. 
 
A saúde mental é influenciada por uma série de fatores, sejam eles; Sociais, genéticos,  psicológicos, de personalidade e também de causas biológicas. Mas o que pouco se fala é que aspectos como o ambiente de trabalho, podem agravar e até mesmo desencadear sérios problemas mentais, que afetam diretamente o desempenho profissional e a vida pessoal dessas pessoas. 
 
PRA TER SAÚDE, É NECESSÁRIO TER SAÚDE MENTAL:
 
 Essa é a situação de Derjane Teixeira, de 38 anos, que trabalhou como Técnica de Enfermagem no serviço público por 15 anos. Infelizmente, Derjane precisou se afastar de suas funções laborais após apresentar uma série de sintomas que iam desde espasmos musculares e distúrbios intestinais até taquicardia, insônia e crises de ansiedade, tudo isso enquanto ainda trabalhava na assistência hospitalar cuidando dos pacientes. 
 
Após passar por uma avaliação psicológica, a profissional foi diagnosticada com Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Depressão e Bipolaridade. Mas até sair a conclusão dos laudos médicos, ela relatou ao Sindsaúde/RN que o seu local de trabalho virou um verdadeiro campo de guerra: “É frescura! É preguiça! É falta de Deus, diziam. É uma ignorância absurda, vindo principalmente de colegas de trabalho e da própria chefia, que não tem o mínimo de preparo para lidar com essa situação pelo fato de ser uma patologia na mente, e não algo aparente”, desabafou a técnica de enfermagem. 
 
Para os profissionais da saúde que já lidam diariamente com pessoas enfermas, óbitos, escassez de materiais e medicamentos, falta de estrutura, sobrecarga de trabalho, pressão das chefias e assédio moral, o risco de desenvolver uma doença mental ou de piorar um quadro psicológico é altíssimo. E a situação ainda pode se agravar, pois além da longa jornada em busca de um diagnóstico, devido ao baixo investimento ou a falta de interesse dos gestores públicos em ampliar a “Política de Saúde Mental e Antimanicomial” através da rede de Atenção Psicossocial,  RAPS, e instalar em todos os locais de trabalho os NASST (Núcleo de Atenção à Saúde e Segurança do Trabalhador) e os NQVST  (Núcleo de Qualidade de Vida e Saúde no Trabalho), muitos ainda precisam lidar com a demora dos trâmites burocráticos para pedir o afastamento.
 
No caso de Derjane, por exemplo, que já homologou seus laudos médicos há mais de dois anos, até hoje ela espera o IPERN publicar sua aposentadoria. “Ainda estou aguardando, há mais de dois anos e isso acarreta várias idas e vindas para entregar os laudos comprovando minha incapacidade laborativa, faz com que minha saúde emocional não tenha a melhora esperada pela equipe interdisciplinar, pois não tenho minha estabilidade”, afirma a servidora. E ainda completa, “isso não é algo novo, e sim uma questão antiga que só comprova o descaso que os profissionais da saúde passam enquanto lidam com a doença ainda na ativa, e ao chegar em um caso mais extremo, como o meu, se tratando da aposentadoria por invalidez, somos esquecidos pelo Estado”. 
 
TRABALHADORES DA SAÚDE DO RN PRECISAM FICAR EM ALERTA!
 
Segundo dados recentes do Ministério da Saúde coletados pela pesquisa Vigitel 2023 e publicados em janeiro deste ano, em 2023, Natal foi a capital que alcançou o maior número de adultos diagnosticados com depressão no Nordeste. Comparado ao relatório de 2021, último ano em que os dados haviam sido divulgados, a capital potiguar registrou um percentual de 13,2% dos maiores de 18 anos, cerca de 117 mil pessoas, com a doença.  
 
Levando em consideração o alto índice de pedidos de afastamento por doenças mentais que ocorrem cotidianamente nos serviços de saúde da capital potiguar e em todo o Rio Grande do Norte, sobretudo após o período pandemico da Covid-19, é extremamente necessário discutir o tema para fortalecer a luta por políticas públicas voltadas a saúde física e mental dos trabalhadores da saúde.
 
Essa questão já virou pauta dentro dos hospitais potiguares, como é o caso do Hospital Dr. José Pedro Bezerra, mais conhecido como o Hospital Santa Catarina, que divulgou neste mês de janeiro/2024, um boletim com dados atualizados sobre a saúde mental dos profissionais da unidade através do NASST/HJPB. De acordo com os dados compilados, foram registrados 50 atestados médicos de profissionais da unidade, sendo 12 diagnosticados com Ansiedade Generalizada,  e 5 licenças para tratar Transtorno de Bipolaridade, só em 2023. 
 
O QUE O SINDSAÚDE/RN DEFENDE?
 
Para a diretora do sindicato, Álclea Costa, que é psicóloga e representante da Secretaria  de Políticas de Saúde do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do RN, é necessário ampliar a rede de atenção para os profissionais da saúde do RN. "O Sindsaúde defende a ampliação dos NASSTs, o funcionamento com equipe própria dos NQVSTs, a participação dos servidores nas reuniões dos colegiados gestores e a eleição direta para direção e  gestores hospitalares das unidades de saúde, tudo isso como política para promover o bem estar dos trabalhadores nos seus locais de trabalho", defende a sindicalista. 
 
“Reivindicamos para todos os trabalhadores e usuários do SUS que a RAPS seja ampliada, valorizada e fortalecida para facilitar o atendimento à psicoterapia, ao acompanhamento psiquiátrico,  fonoaudiológico e das demais terapias complementares, conforme as necessidades individuais. Para isso, é necessário o Estado convocar psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais e outros profissionais do Concurso Público de 2018, que ainda são escassos para essa demanda gigantesca no SUS, como também os municípios assumirem esse compromisso com sua população, porque não há saúde sem saúde mental”, enfatiza  a psicóloga, Álclea Costa. 
 
Por fim, para nós do Sindsaúde/RN, é preciso dar voz e trazer à luz essa questão, que afeta tantas pessoas em todo o mundo,  com o objetivo de prevenir o adoecimento e o agravamento dos casos. Por isso, se identificarem os sintomas, busquem ajuda!