No dia 20 de maio, a imprensa publicou uma denúncia de que a assistente social concursada Ruth Alaide Escossia Ciarlini, ex-deputada estadual, ex-vice-prefeita de Mossoró e irmã da governadora Rosalba Ciarlini, seria funcionária fantasma no Hospital Regional Tarcísio Maia, para onde se transferiu, neste ano. Segundo a imprensa, a servidora não é vista no hospital, mas recebeu o seu salário e o valor referente a 16 plantões, somando 196 horas em um mês. A notícia foi acompanhada de documentos com os vencimentos da servidora e a escala de plantões.
A denúncia é mais um escândalo na política do Rio Grande do Norte e, se comprovada, mostra como os políticos e governantes se aproveitam do serviço público para seus interesses. Torna-se ainda mais grave, diante do baixo investimento na saúde, principal razão para o caos na saúde pública e usado como desculpa para justificar as mortes nos corredores dos hospitais e a desvalorização salarial dos profissionais de saúde. A denúncia levou a que o secretário estadual de Saúde, Luiz Roberto Fonseca, dois dias depois, informasse a abertura de uma sindicância.
Não é difícil apurar se a irmã da governadora trabalhou nestes meses ou não no hospital, cujo diretor é seu cunhado. O hospital possui o sistema de ponto eletrônico, obrigatório para todos os profissionais de saúde. A pergunta que fica é: irmã da governadora usava o ponto eletrônico para registrar a entrada?
Vários profissionais atestam nunca ter visto a irmã da governadora por lá. Caso o sistema do ponto eletrônico tenha registrado a entrada de Ruth Ciarlini, diariamente e nos horários de plantão, isso leva a uma desmoralização completa desse sistema. Enquanto isso ocorre, 296 funcionários estão ainda sem receber o salário de dezembro, por problemas no cadastramento no sistema do ponto eletrônico. Mas a irmã da governadora recebeu o valor do salário e dos plantões regularmente… Como isso teria ocorrido? Há formas de burlar o ponto eletrônico?
Há outros mecanismos de checagem, como o controle dos prontuários de atendimento. Afinal, não é possível que Ruth Ciarlini não tenha feito um atendimento sequer em cada um de seus 16 plantões noturnos no mês. O registro dos prontuários também pode esclarecer se ela trabalhava ou não, preservando-se a identidade dos pacientes. Por último, até mesmo as imagens do sistema de segurança do hospital podem ser utilizadas.
Há várias formas de verificar onde estava Ruth Ciarlini. Mas, para investigar, é preciso total isenção. A Secretaria de Saúde instaurou uma sindicância. Nós, do sindicato dos trabalhadores da Saúde, achamos que o caso merece mais. Trata-se da irmã da governadora. De uma governadora do DEM, reprovada pela maioria da população e que tenta salvar a sua imagem para disputar as próximas eleições. Qualquer um sabe que não interessa a governadora Rosalba que a sua irmã seja comprovada como funcionária fantasma. Há muito em jogo nesse caso e não é demais imaginar que possa haver pressões de todo tipo.
Por isso, defendemos:
- Presença de um representante dos trabalhadores, eleito no hospital, e de um representante do Sindsaúde, para integrar a sindicância e fiscalizar o seu trabalho, com amplo acesso a todos os documentos, depoimentos e provas.
- Obrigatoriedade do uso do ponto eletrônico para todos e transparência, em tempo real, dos registros e relatórios. Pagamento imediato aos servidores que estão sendo prejudicados.
- Democratização dos hospitais e eleição dos gestores. Basta de apadrinhamento e troca de favores na saúde e no serviço público.
SINDSAÚDE-RN
Sindicato dos servidores da saúde do Rio Grande do Norte
www.sindsaudern.org.br