Fernanda Soares
Fernanda Soares

01/04/2014, 13h


Nesta terça-feira (1), os servidores da saúde estadual em greve fizeram um ato público no Centro de Saúde Reprodutiva, no Alecrim. O Centro é uma referência na área de saúde da mulher e está sob ameaça de ter seu serviço descontinuado, segundo informações dos servidores do local. Atualmente, apenas 29 servidores se encontram trabalhando ali (antes já chegaram a ser 150) e os demais foram transferidos para outras unidades, sem o mínimo respeito com os servidores. Muitos deles atuavam há décadas no centro.

Recentemente, os secretários de saúde estadual e municipal divulgaram a municipalização do Centro. Porém, os servidores denunciam que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) não pretende assumir o serviço, já que alega não ter condições de fazê-lo funcionar. Se o serviço for realmente interrompido, as consequências podem ser irreversíveis, principalmente àquelas mulheres que dependem do SUS e ficarão sem atendimento quando se trata de câncer de colo uterino e de mama.

Pouco antes do início do ato, uma usuária foi encontrada na portaria do local, chorando porque soube que não seria mais atendida pelo médico que a acompanhava há anos. Maria da Cunha, de 61 anos, sofre com nódulos nos seios e precisa fazer exames e consultas rotineiramente, pois os nódulos podem evoluir e tornarem-se malignos. Hoje, essa senhora se viu em uma situação de desespero, por não saber para onde recorrer. “A gente vai em um canto, tá fechado... Vai em outra sala, tá fechada... Eu fico sem saber o que fazer, fico muito triste e às vezes não aguento”, lamentou a senhora, aos prantos.

Já a assistente social do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), que realizava serviços de diagnóstico e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, falou sobre o fechamento de seu setor: “o CTA é um programa que existe em todo o Brasil e esse aqui nosso era uma referência nacional para questões de DST/AIDS. Eu desenvolvo meu trabalho no CTA há 18 anos! E agora ele está fechado e a população, que precisa do serviço, está sendo prejudicada. Nem o teste rápido de HIV estamos fazendo mais”, informa a servidora.

Além do fechamento desses serviços, a Sesap também vem retirando equipamentos do local, como é o caso do processador de mamógrafo, que já foi encaminhado para o Hospital de Assú. Este é um equipamento crucial para a realização do exame de mamografia, sem ele o exame não pode ser realizado.

Além disso, o Programa do Adolescente, que tinha cerca de 12 jovens cadastrados, foi cancelado. O Centro Cirúrgico que realizava biópsia diagnóstica de colo de útero foi desativado, assim como foram suspensos os procedimentos para o tratamento de neoplasia inicial de útero, importante para se evitar o avanço do câncer de colo de útero.

“A Sesap está desmontando um serviço que, principalmente para as mulheres que dependem exclusivamente do SUS, pode significar a vida ou a morte. Sem o Centro Reprodutivo essas mulheres não terão para onde recorrer, já que nada ficará no lugar dele”, afirma Simone Dutra, coordenadora geral do Sindsaúde-RN.

Após a realização do ato, os servidores seguiram para a Assembleia Legislativa para acompanhar o andamento do Projeto de Lei da Saúde. À tarde, os servidores participam da passeata “Verdade, Reparação e Justiça, 50 anos no golpe militar”, para relembrar e cobrar justiça pelos horrores vividos durante a Ditadura Militar brasileira. A concentração será no Baldo, às 14h.