Fernanda Soares
Fernanda Soares

05/02/2014, 18h


O Sindsaúde-RN se reuniu nesta terça-feira (4) com os servidores do Hospital Walfredo Gurgel para apurar as constantes denúncias de jornadas excessivas de trabalho e o número crescente de atestados médicos. A reunião também contou com a presença da chefia do Walfredo, que ao longo do encontro reconheceu o déficit de 256 técnicos de enfermagem e de 38 enfermeiros para suprir a necessidade atual do hospital.

O sindicato ouviu depoimentos de jornadas sobrecarregadas e de falta de condições de trabalho em setores cruciais, como farmácia, pediatria, ortopedia, limpeza e assistência social.

No setor de politraumas, uma servidora relatou que atualmente apenas 3 técnicos ficam responsáveis para cuidar de casos de urgência, curativo, medicação e até 6 entubados. À noite, a situação se agrava, pois o setor chega a funcionar com apenas 1 técnico realizando todo esse serviço. Um dos deles chegou a dizer que preferia “cruzar os braços a ter que morrer de trabalhar tentando salvar outras vidas, sem a mínima condição”.

Já na nutrição os funcionários têm trabalhado à noite mesmo sem adicional noturno, encarando longas jornadas para não prejudicar o serviço. Oito servidores da Sesap atuam no setor durante o turno diurno e seis à noite, mesmo assim o número é insuficiente. “Às vezes temos apenas 3 servidores à noite, o que é inadmissível! O que eles querem de nós, que a gente trabalhe 36 horas seguidas? Tem dias que eu preciso salvar a mim mesma, embora o maior prejudicado seja o paciente”, desabafou uma servidora do setor.

RESPOSTA DA DIRETORIA

Sobre esses problemas, a diretora geral do hospital, Fátima Pereira Pinheiro, falou que tem acompanhado de perto o cotidiano dos trabalhadores e que tem feito o possível para promover a desospitalização (redução do tempo de internação) e encaminhar pacientes menos graves para outras unidades. “O problema é que está no inconsciente coletivo do cidadão que o Walfredo é a última porta pra tudo. Todo mundo acaba terminando aqui!”, lamentou a diretora.

Já a diretora de enfermagem apontou o grande número de atestados médicos como um dos responsáveis pelas lacunas no quadro de funcionários e disse que, com base em um relatório do Coren, solicitou à Sesap 256 técnicos e 38 enfermeiros para suprir a carência. Ainda segundo a diretora, o secretário de saúde, Luiz Roberto Fonseca, pediu um prazo até março para encontrar uma solução. “Por isso eu peço um pouco mais de paciência a vocês e o apoio da enfermagem, porque precisamos manter funcionando também os programas do Ministério da Saúde, que são exigentes, mas nos trazem dinheiro e equipamentos”, pediu.

O sindicato defendeu os trabalhadores e se mostrou contra a junta médica do Walfredo: “os servidores estão adoecendo porque estão no limite e o grande número de atestados só comprovam isso. Para termos funcionários saudáveis, é necessário ter condições de trabalho e salários dignos. As pessoas aqui só dobram plantões e dão plantões eventuais porque são mal remuneradas”, afirmou Rosália Fernandes.

Por fim, a assessora jurídica do sindicato, Adonyara Azevedo, ainda falou sobre a ilegalidade da junta médica no hospital: “Depois de todos os problemas pelas quais os servidores passam aqui, eles não podem nem adoecer mais? A lei é clara quando diz que atestados inferiores a 15 dias devem apenas ser entregues. Somente após esse período é que o trabalhador segue para a junta médica do estado. Essa prática que está ocorrendo no Walfredo é uma forma de intimidar os servidores e nós não vamos aceitar”.