Fernanda Soares
Fernanda Soares

22/05/2014, 19h


Zé Maria, metalúrgico, membro da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas

Neste 15 de maio vivemos um amplo processo de lutas em todo o país. Na maioria das capitais aconteceram manifestações de rua que protestaram contra as injustiças da Copa. Mas não foram apenas as passeatas – algumas duramente reprimidas pelo polícia, como ocorreu em São Paulo. O país viveu centenas de outras formas de protesto.

Em São Paulo tivemos greves em mais de uma dezena de fábricas metalúrgicas, convocadas pelo sindicato de metalúrgicos local em protesto contra a política econômica do governo federal. Uma enorme passeata dos professores da rede municipal em greve ergueu a voz da categoria que cobra do prefeito Haddad (PT/SP) atendimento das reivindicações dos educadores em contraponto à destinação de recursos públicos para as empreiteiras e para a Copa. Os metroviários paralisaram o setor de manutenção e fizeram uma linda passeata por todo o centro da cidade. As famílias da Ocupação Esperança, do Luta Popular, fecharam a rodovia Anhanguera ainda no inicio da manhã. O MTST promoveu diversas mobilizações, também pela manhã em vários pontos da cidade. O protesto dos movimentos populares era contra as injustiças da Copa e de exigência de moradia para o povo pobre.

Em Belo Horizonte uma grande manifestação reuniu trabalhadores em greve de diversas categorias (professores da rede municipal de Belo Horizonte, servidores municipais de BH, professores da rede estadual) com as famílias da Ocupação Wiliam Rosa, do Luta Popular, outros movimentos populares da região e estudantes. No Rio de Janeiro, na esteira da greve dos rodoviários que paralisou a cidade alguns dias antes, uniram-se em uma manifestação no centro da cidade os professores da rede municipal e da rede estadual que se encontram em greve, diversas outras categorias e estudantes. Todos protestando contra as injustiças da Copa, a política econômica do governo federal e o descaso dos governos estaduais e municipais para com as demandas dos trabalhadores e do povo pobre.

E assim foi em diversas outras capitais, com manifestações organizadas pelo Comitê Popular da Copa, pela CSP-Conlutas, pela ANEL, por sindicatos e movimentos populares. O que o país viveu, portanto, foi um forte dia de protestos contra as escolhas feitas pelos governantes das três esferas (federal, estaduais e municipais) e exigindo mudanças no país. Não é que os trabalhadores e jovens que lutam queiram impedir a realização da Copa do Mundo. Pequenos grupos como os adeptos da tática Black Bloc, que com seu modo de agir só prejudicam o movimento, não representam as centenas de milhares de jovens que participaram dos protestos em todo o país.

O que motiva os protestos são as injustiças que a Copa do Mundo apenas evidencia. Porque é que os governos podem garantir, com recursos públicos, o famoso “padrão FIFA” para os estádios e não pode garantir este mesmo “padrão” para a qualidade dos serviços públicos de saúde, educação, transporte? Porque os recursos repassados ás empreiteiras não são usados para garantir moradia para o povo pobre, para fazer a reforma agrária, para pagar uma aposentadoria digna para aqueles que trabalharam sua vida inteira? É a violência machista contra as mulheres, o racismo e a homofobia que se alastram na sociedade sem que haja uma ação concreta das autoridades para mudar este quadro.

O que motiva os protestos é a violência com que a policia, a mando dos governos, tratam os jovens e trabalhadores nas manifestações, a criminalização da luta social. No Rio Grande do Sul um juiz acaba de aceitar uma denúncia feita pelo Ministério Público contra o jovem Matheus Gomes, dirigente do PSTU e da ANEL, e mais 5 companheiros, que, se condenados podem pegar até 20 anos de prisão. Já são centenas de jovens indiciados pela policia em todo país. Seu crime? Lutar por seus direitos! O que motiva os protestos é o verdadeiro genocídio praticado pela policia na periferia das grandes cidades, contra o povo pobre e negro.

O governo da presidenta Dilma pronunciou-se tratando de diminuir e desmerecer a importância dos protestos que houve no 15M. Tenta desvincular as greves e lutas dos movimentos populares dos protestos contra a Copa, como se estas greves e estas lutas também não questionassem as políticas e escolhas feitas pelo seu governo. Como propaganda na grande imprensa e na televisão isso pode ser feito. Mas a realidade que vive o país é muito diferente da propaganda oficial.

Desde junho do ano passado – quando milhões foram às ruas expressando seu descontentamento com os governos e exigindo mudanças no país – vivemos uma nova situação política no país. Que vem se aprofundando nos últimos meses e vive um pico de mobilizações nas últimas semanas. O fato de este processo não se dar na forma de manifestações de centenas de milhares nas ruas, mas sim através de centenas de greves em todo o país, de ocupações e mobilizações dos movimentos populares e de lutas estudantis não lhe tira força ou importância. Muitas destas greves são expressões de rebelião dos trabalhadores, que passam por cima das direções sindicais quando estes preferem apoiar o governo e os empresários, e vão à greve para defender seus direitos.  Em vários estados a mobilização já chegou à base das forças de segurança, como vimos na greve da PM na Bahia e, mais recentemente, em Pernambuco.

Pelo contrário, o que vemos é um salto adiante no processo de lutas no país, agora com um protagonismo cada vez maior da classe trabalhadora organizada, através de suas formas tradicionais de luta. E esse quadro tende a se ampliar nas próximas semanas.

Fortalecer e unificar as lutas! 12 de junho é dia de greves, ocupações e manifestações de rua!

Os servidores federais da área técnica e administrativa das universidades federais estão em greve em todo o país. Também estão em greve os trabalhadores (professores e técnico-administrativos) dos Institutos Federais de Educação no Brasil inteiro. Participaram dos protestos em seus estados, mas continuam em greve exigindo o atendimento de suas reivindicações. Nesta semana começou a greve dos trabalhadores do poder judiciário federal e, no início de junho, várias outras categorias do serviço público federal devem parar suas atividades nas próximas atividades.

Os operários da construção civil, de empreiteiras da Petrobrás, estão em greve na baixada santista. Operários da construção civil estão preparando para os próximos dias, greves em Belém e Fortaleza. Os trabalhadores no transporte coletivo – ônibus, trens e metro – seguem em luta e devem ocorrer várias greves nas próximas semanas.. Enfim, o panorama que temos, ao contrário do que diz (e torce) o governo, é de crescimento da mobilização social em todo o país. Os trabalhadores e a juventude brasileira querem mudanças no país! É este o contexto da preparação da jornada de mobilizações convocada para o dia 12 de junho, dia do primeiro jogo da Copa do mundo.

Vamos trabalhar para fazer confluir para esta data, este período, todas as mobilizações em curso e em preparação. Vamos unir todas as lutas numa grande jornada de greves, ocupações e manifestações para exigir mudanças de verdade no país, com melhores salários, recursos públicos para atender as necessidades da população, o fim da violência policial e da criminalização da luta social. Chega de privilégios e dinheiro para a FIFA, empreiteiras, bancos e grandes empresas nacionais e multinacionais!

Nossa luta é a mesma em todo o mundo
E queremos estender este chamado a nossos irmãos trabalhadores e jovens de todo o mundo, para que se somem a nossa jornada, organizando em seus países protestos que apóiem as lutas no Brasil. Nossa luta é em defesa dos interesses e direitos da classe trabalhadora e da juventude. É a luta contra a dominação do nosso país pelas grandes empresas, bancos multinacionais, que exploram e oprimem o nosso povo. É a mesma luta daqueles que se batem em todo mundo contra todas as formas de exploração e opressão do capitalismo. Vamos então, lutar juntos!