Fernanda Soares
Fernanda Soares

14/01/2014, 15h


O Hospital Deoclécio Marques, que fechou o atendimento pediátrico em dezembro, é um retrato do caos na saúde e da falta de investimento. Nesta segunda-feira, 13, diretores do Sindsaúde estiveram no hospital e encontraram o seguinte cenário: cozinha interditada, corredores lotados, sobrecarga de trabalho e insegurança.

A cozinha do hospital foi interditada pelo Corpo de Bombeiros no dia 30 de dezembro, após um vazamento de gás. Servidores, acompanhantes e pacientes convivem com o atraso nas refeições, que estão sendo preparadas em um espaço cedido pela Escola Estadual Roberto Rodrigues Krause, no mesmo bairro de Parnamirim. Nesse período, muitos tiveram que almoçar fora, pois as refeições chegavam por volta das 14h.

A partir desta terça-feira, 14, será instalado um fogão em uma área do hospital, onde serão preparadas as refeições dos pacientes. Para acompanhantes e funcionários, foi feito um contrato com uma empresa, que fornecerá a comida em um refeitório montado no hospital. A construção de uma área específica para gás deve levar 90 dias.

 

A falta de condições estruturais, comum a várias unidades do estado, não se resume à cozinha. Na central de material e esterilização, o sistema de ar refrigerado está queimado. Na hora em que o autoclave é acionado, os servidores deixam a sala e aguardam do lado de fora, por conta da alta temperatura. Segundo a diretora do Deoclécio Marques, Elizabeth Carrasco, o conserto já foi autorizado e o problema deve ser resolvido nesta semana.

Superlotação e sobrecarga de trabalho

O problema principal, infelizmente, não tem previsão de solução. No Pronto-Socorro, um técnico de enfermagem atende em média 30 pacientes, superando outros hospitais, como o Santa Catarina e o Walfredo Gurgel, onde a média está em 18 pacientes por técnico.

A sobrecarga é resultado da falta de profissionais. Segundo Elizabeth Carrasco, o déficit de técnicos de enfermagem no hospital é de 127 profissionais. No entanto, em maio de 2013, o relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RN), com dados do Setor de Dimensionamento da Sesap, apresentava déficit ainda maior, de 167 técnicos. De lá para cá, não houve nenhuma convocação de concursados para a Região Metropolitana, a não ser para o Hospital da Polícia.

Em relação aos enfermeiros, a diretora aponta déficit de 50 profissionais, mais do que o dobro dos 21 lotados no Deoclécio. Neste caso, o relatório do TCE aponta déficit menor, de 25 profissionais.

Pacientes nos corredores

Com este déficit, os pacientes internados não conseguem ter o atendimento adequado, pois não há como um mesmo profissional atender 30 pacientes ao mesmo tempo. O problema é ainda maior, pois parte destes pacientes recebe atendimento em macas nos corredores.

Na segunda-feira (13), além dos pacientes nos leitos das enfermarias, outros 35 estavam internados no hospital, mas em macas nos corredores. E outros tantos ainda estavam em observação no corredor, aguardando pela internação.

O cenário ainda é completado pela falta de segurança. Na madrugada do dia 13, um preso que estava sendo atendido no Deoclécio preparou uma corda com lençóis e escapou do hospital.