Fernanda Soares
Fernanda Soares

23/09/2022, 08h


Em um ato cruel, misógino e desumano, Mahsa Amini teve seus curtos 22 anos de vida interrompidos na última semana. A jovem visitava a capital do Irã, na companhia de sua família, quando foi, no dia 13 de setembro, presa pela polícia moral do Irã por “utilizar de forma incorreta” o hijab, lenço que, por lei, as mulheres do país são obrigadas a usar cobrindo seus cabelos. Segundo testemunhas, ela foi espancada ainda na viatura e, após três dias em coma no hospital, morreu.
 
A polícia moral, conhecida por suas intervenções violentas contra mulheres suspeitas de violar o código de vestuário em vigor no país desde a revolução islâmica em 1979, informou que Amini sofreu um ataque cardíaco após ser levada à delegacia para ser “convencida e educada”. A emissora estatal rejeita as alegações de que ela foi espancada. A população, por sua vez, realizou protestos em decorrência da morte da jovem nas ruas de Saqqez, cidade da vítima, e Teerã, capital do Irã. No mundo inteiro, mulheres estão cortando seus cabelos também como uma forma de protesto e publicando nas redes sociais.
 
Assim, Mahsa Amini, por supostamente ter deixado alguns fios de cabelo visíveis sob o lenço na cabeça, teve todas as suas possibilidades interrompidas. Mahsa, assim como tantas outras e assim como todas nós, nasceu sentenciada à morte, vítima de uma estrutura patriarcal construída e mantida ao longo do tempo através do ódio às mulheres. A política assassina de Aiatolá Ali Khamenei, Líder Supremo do Irã desde 1989, apenas escancara a institucionalização dos nossos corpos e a caçada à nossa liberdade de existir.
 
Nossa sentença de morte perdura e no Brasil, por exemplo, morremos mais um pouco cada vez que ouvimos notícias como a da menina de 11 anos, moradora da zona rural de Teresina, que teve seu direito ao aborto negado depois de engravidar duas vezes vítima de violência sexual. Ou quando lemos que 45% das mulheres já foi tocada sem consentimento em local público,  41% das brasileiras já foram xingadas ou agredidas por dizerem "não" a uma pessoa que estava interessada nelas e 1 em cada 3 mulheres afirmam ter passado por situação de importunação ou assédio sexual no transporte público e que já sofreram tentativa ou abuso sexual.
 
Mesmo morrendo um pouco, todos os dias, ainda sim resistimos às opressões e estamos cada vez mais empenhadas a exigir justiça por Mahsa e por todas as outras que tombaram lutando pelo direito de viver. Nosso véu, nossas roupas, nossas personalidades, não são convites à violência e muito menos mortalhas. Vamos adiante na luta contra o machismo, gritando que: chega. Não aceitaremos nenhuma mulher a menos nessa luta. Parem de nos matar!