Fernanda Soares
Fernanda Soares

12/03/2014, 16h


Nesta terça-feira (11), a servidora municipal Alexsandra Cândido, Agente Comunitária de Saúde na Unidade Mista de Felipe Camarão, teve sua história de superação contra a violência à mulher reconhecida neste que foi um importante dia de luta para as mulheres. Pela manhã, Alexsandra foi homenageada na Câmara de Vereadores, pela vereadora Amanda Gurgel (PSTU), durante solenidade em homenagem ao 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. À tarde, Alexsandra participou do ato público promovido pelo Movimento Mulheres em Luta (MML) e por outras entidades, também pelo 8 de Março, onde apresentou uma encenação teatral sobre a violência machista.

Alexsandra soube transformar sua triste história em um exemplo de superação! Em janeiro de 2006, ela foi vítima de seu próprio marido, que tentou matá-la com uma faca dentro de casa, tudo isso porque o agressor se considerava dono da esposa e não aceitou a separação, ocorrida 2 meses antes. Após ser socorrida por vizinhas, Alexsandra foi levada ao Walfredo Gurgel e, felizmente, os ferimentos à faca não foram tão profundos. Ela foi liberada e voltou para casa. Mesmo assim, no dia seguinte, o marido (que não havia sido preso), tentou matá-la novamente em uma parada de ônibus, mas conseguiu ser detido pelas pessoas presentes e, em seguida, preso pela polícia.

Depois de outra vez ter sofrido violência, Alexsandra deu início a uma humilhante peregrinação. Atendimento no hospital, perícia no ITEP e depoimentos na delegacia. Por onde passou, foi mal atendida, devido às péssimas condições e falta de estrutura destes serviços. O ex-marido de Alexsandra passou apenas três meses na cadeia e não foi enquadrado na Lei Maria da Penha, que só entraria em vigor em setembro daquele ano de 2006.

Alexsandra foi casada durante 14 anos, mas os primeiros sinais da opressão que ela viria a sofrer vieram com os ciúmes do marido ainda no 10º ano de relação. Logo vieram as perseguições ao trabalho, agressões verbais e físicas.

SUPERAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS

Alexsandra não se deixou vencer pela humilhação, e pelos danos psicológicos que ela e seus três filhos sofreram em decorrência dessa triste história. Ela conseguiu transformar todo o sofrimento em uma bandeira de luta. Há seis anos ela teve acesso à luta feminista, quando conheceu o Fórum de Mulheres Leila Diniz e, em 2013, conheceu e foi acolhida pelo Movimento Mulheres em Luta (MML), após participar do I Encontro Nacional do MML, em Minas Gerais.

Hoje, Alexsandra ajuda a combater o machismo e a violência contra à mulher em sua comunidade, no bairro de Felipe Camarão. No início de 2014, ela e mais 4 servidoras da Unidade Mista de Felipe Camarão formaram o grupo teatral Mulheres Lindas e Loucas, com o intuito de promover encenações lúdicas, que ajudem a conscientizar as mulheres da comunidade sobre as políticas públicas de proteção à mulher. Desde então, o grupo tem se apresentado em postos de saúde e escolas.

Alexsandra acredita que essas ações e as palestras que promove têm ajudado a informar as mulheres de sua comunidade: “Eu luto para incentivar outras mulheres que passam pelo que eu passei a tomarem uma atitude e denunciarem seus agressores. Eu achava que não valia a pena participar de movimentos sociais, mas na verdade eu não tinha informação! Eu mudei muito depois que descobri os movimentos sociais. Mudei para melhor! Hoje eu tenho uma cabeça mais ampla”, comemora.

A agente comunitária também participa ativamente das atividades de mobilização dos servidores da saúde em Felipe Camarão. “Sempre participo das assembleias do Sindsaúde e das greves, ajudando a conscientizar os servidores nos postos de saúde e a população quando estamos paralisados”, afirma Alexsandra.

Para ela, a homenagem que recebera na Câmara de Vereadores neste dia 11 é um importante reconhecimento de sua história de superação: “Ali, eu senti que estava representando todas as mulheres que passaram e que infelizmente ainda passam pelo que passei. Também senti que estava transmitindo força a essas mulheres e que é possível mudar a nossa história”.