Jovenildo Alexandre da Silva, de 38 anos, tem mais de quarenta placas no corpo, sequelas de um acidente ocorrido há mais de dez anos. Na Unidade Mista de Felipe Camarão, o homem busca a troca e limpeza dos seus curativos regularmente, mas nem sempre consegue. Jovenildo é apenas mais um, dos muitos usuários (as), que hoje padecem pela falta de insumos básicos, como atadura, e pela falta de RH. Após o fechamento do laboratório, dez vagas diárias são disponibilizadas para exames de laboratório e os pacientes precisam ir coletar na Unidade da Cidade da Esperança.
O Sindsaúde/RN esteve, mais uma vez, na unidade nesta terça-feira (5). Durante a visita, foi possível identificar o déficit enorme de profissionais, como por exemplo: áreas sem enfermeiro (a), dois auxiliares de enfermagem quando deveriam haver doze, quatro enfermeiras quando deveriam ter seis, vinte e sete agentes de saúde em um equipe que deveria ter trinta e seis. Tudo isso para dar conta de uma demanda de três unidades, sendo a principal com uma média de 300 atendimentos gerais, incluindo médico, enfermagem e vacinas. Muitas vezes, é solicitado que os próprios pacientes tragam seus próprios medicamentos e insumos.
A unidade, tendo em vista as seis equipes, era para ter no mínimo duas salas de vacina, dois profissionais reguladores para cada turno, um recepcionista para os dois turnos, um quadro de porteiros 24h devido a alta insegurança e pelo menos mais um ASG. Cabe destacar que no local só há dois banheiros, sendo um para uso unissex dos usuários (as) e o outro para uso unissex dos funcionários. Vinte e três agentes de saúde se revezam em apenas dois computadores e todos os servidores dividem uma única impressora. As quedas recorrentes de energia causaram a quebra de seis computadores desde janeiro.
Foi denunciado, ainda, a presença de animais como ratos e escorpiões que não podem ser combatidos porque, segundo as informações, não existe mais contrato com a empresa responsável e a zoonose não se responsabiliza mais. Na sala da dentista, uma das cadeiras está há quase um ano quebrada, precisando de manutenção ou de substituição, o que ainda não aconteceu porque não há licitação nem contrato com nenhuma empresa que dê esse suporte. A sala não oferece condições de realizar cirurgia, apenas procedimentos básicos e de acolhimento à demanda aberta, sem agendamentos. Os três dentistas se revezam na unidade principal e na unidade dois.
Em cada centímetro da Unidade Mista de Felipe Camarão o sentimento é apenas um: desmotivação. O local que tinha tudo para se tornar referência em atendimento e especialidades não oferece o mínimo de condições para que os profissionais executem seu trabalho. No outro lado está a população carente de tudo, mas principalmente de atenção. Atenção Básica. Era para ser nela que a gestão Àlvaro Dias (Republicanos), tão boa em fazer maquiagens, deveria concentrar seus esforços e assim diminuir até a demanda dos outros serviços mais complexos. O Sindsaúde/RN exige uma audiência pública na Câmara dos Vereadores para denunciar a situação em que mães, crianças, idosos e pacientes psiquiátricos estão expostos em Felipe Camarão. É na atenção básica que se direciona os primitivos e, por ironia, ela é umas das que mais sofre descaso. Até quando?