“Piso da enfermagem pode deixar 1,1 milhão sem atendimento no RN” é o título de uma matéria tendenciosa do jornal Tribuna do Norte, publicada na última terça-feira (13). A reportagem faz menção a um estudo técnico da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) que aponta o novo piso da enfermagem como o responsável por deixar 1,1 milhão de potiguares sem atendimento de saúde. Mas, será que é mesmo tudo culpa do piso?
No Brasil existem 2.726.744 profissionais que compõem a categoria da enfermagem. Segundo dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), esse é o maior contingente de trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) do país e eles atuam no restabelecimento da saúde, nos hospitais e na Atenção Primária em Saúde, recuperando, prevenindo e promovendo a saúde da população brasileira. Depois de trinta anos de luta, em 4 de agosto de 2022, foi finalmente sancionada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso Nacional a Lei nº 14.434/2022, que regulamenta o piso salarial da categoria. O que foi feito não é um favor, é um direito. Direito agora que vem sendo brutalmente atacado.
Os argumentos capazes de assustar a população- que até então demonstrou apoio a categoria da enfermagem-, negam, na verdade, os anos de luta por valorização e reconhecimento que a categoria enfrentou desde a regularização da profissão, em 1955. Pela lógica do estudo, divulgado pela Tribuna, salvar a população de um vírus altamente letal sem EPI 's, sem insumos básicos, dobrando plantões, é aceitável. Agora receber dignamente por esse serviço prestado é um problema. Diante de um histórico brutal de sucateamento, denunciado incansavelmente pelo Sindsaúde/RN todos os dias, é vergonhoso que o piso salarial da enfermagem seja apontado como o responsável pela possibilidade dos potiguares ficarem desassistidos. Há anos falamos sobre descaso dos governos com o funcionamento dos hospitais e unidades de Atenção Primária em Saúde, exigimos mais investimento na saúde pública e alertamos para a necessidade de se investir em melhorias para proporcionar à população um atendimento digno.
Essas análises que inviabilizam o pagamento de um valor digno para uma classe trabalhadora sob o argumento de que Estados, Municípios e instituições privadas não suportariam o baque financeiro, só comprovam, na prática, o quanto os sistemas sobrevivem da manutenção da exploração dos trabalhadores e trabalhadoras. Do que adianta a grande visibilidade midiática que a enfermagem recebeu nos últimos três anos se na oportunidade que os trabalhadores (as) têm de receber esse reconhecimento em forma de um aumento salarial, os poderosos se posicionam contra?
Mais do que nunca, é necessário discutir sobre a importância da garantia de direitos aos trabalhadores e trabalhadoras da enfermagem, tendo em vista a importância do serviço que é e sempre foi prestado. Quando a base diz que “na pandemia eu não parei, mas pelo piso eu vou parar”, é, não só a reafirmação do compromisso com a população, mas um grito de quem está cansado (a) de implorar pelo que é mínimo e necessário. Não é o piso salarial da enfermagem que ameaça os (as) usuários (as), é a falta de compromisso daqueles que se recusam a pagar e constantemente colaboram com a precarização dos serviços prestados. População, a enfermagem não é sua inimiga! Vamos juntos garantir a valorização profissional da classe que, por sua vez, seguirá garantindo serviços de qualidade a todos(as) vocês.